A riqueza na economia virtual
A riqueza na economia virtual
Em 2008 li The Wealth of Networks, de Yochai Benkler. O livro é clara alusão à The Wealth of Nations, publicada por Adam Smith em 1776, e que revolucionou o pensamento e procedimento econômicos.
Yonchai faz uma belíssima defesa de como o engajamento social pode influenciar a liberdade pessoal pela atuação nos mercados econômicos ao transformar o empregado em empreendedor (enfatizo: empreendedor e não necessariamente empregador). Traduzindo: a internet é disponibilizadora e potencializadora de oportunidades para a livre iniciativa.
Desde 2008 busco compreender o alcance e significado dos conteúdos expostos no livro para além de uma apologia ao liberalismo econômico. Como e sob quais formas as oportunidades estão presentes na web? Como transformar ideias em produtos vendáveis?
No início de 2013 decidi desenvolver uma iniciativa prática e testar os argumentos de Yochai, pelo menos na forma como deles me apropriara. Listei quatro requisitos iniciais para minha investigação: identificar algum bem de meu interesse, transformá-la em produto, agregar valor para torná-lo comercializável e, fundamentalmente, reduzir custos ao mínimo indispensável.
A identificação de um bem de meu interesse recaiu sobre algo abundante na capital paulista, mas que é controverso quanto à adequação ao ambiente social.
A arte de rua (ou graffiti ou grafite) é constante nos espaços públicos, apreciada por um elevado número de pessoas mas também desprezada por igual número devido à poluição visual e sentimento de caos que pode despertar. Mas aqui algumas considerações devem ser evidenciadas: o graffiti distingue-se da pichação, este último responsável pela degradação visual. Além disso, existem grafites de elevada beleza estética e grafites medíocres, aliás, como em todas as áreas de atuações profissionais. Ao lado do competente está o incompetente, sendo útil separá-los em razão dos objetivos e resultados a serem alcançados.
Escolhi o graffiti, um bem cultural, como objeto de trabalho e, desde 2013, sistematicamente pesquiso locais na Grande São Paulo com pinturas de qualidade técnica elevada e esteticamente belos, fotografando-os na sequência. Essa pesquisa ampliou consideravelmente meus conhecimentos sobre a região pelo contato com iniciativas verdadeiramente autênticas, como o Beco do Batman, um espaço cultural internacionalmente conhecido e frequentado na Vila Madalena, os grafites nas janelas da Pinacoteca de São Paulo e o Projeto Meninos de Arte, desenvolvido entre 1994 e 2004 com adolescentes carentes, por iniciativa e coordenação do artista e professor argentino Juan José Balzi (algumas pinturas encontram-se permanentemente expostas no início da Av. Paulista). Além disso, necessitei desenvolver habilidades profissionais no tratamento digital de fotos, algo possível, principalmente, pelo desenvolvimento do conhecimento e treino no manejo de um software gráfico sobre imagens chamado GIMP, disponibilizado gratuitamente na web (perceba aqui uma aplicação prática das ideias de Yochai).
Entretanto, não possui muita utilidade fotografar grafites e tratar digitalmente fotos como ajuste de ângulos, balanceamento de cores e correções de danos, como riscos e ações do tempo, para não expô-las ao público. E aqui encontra-se o segundo requisito: alçar o bem ao nível de produto.
Desenvolvi, então, um website, Psyche, para publicação das fotos e necessitei desenvolver novas habilidades, como treinamento em webdesign, escrita de textos para contextos digitais, planejamento, desenvolvimento e manutenção de websites e webanalytics (medição de alcance das postagens, tipos de conteúdos com maiores visualizações e níveis de tráfego). Novamente, um software profissional e gratuito foi (e continua sendo) de fundamental importância na consecução de meus objetivos: a plataforma Drupal.
A interação com um website me mostrou que existe um público estrangeiro apto a consumir produtos brasileiros e que o graffiti pintado no Brasil apresenta um excepcional nível de qualidade técnica e beleza visual. Dai que o website Psyche é bilingue (português e inglês) e que, por razões estratégicas, um segundo website sobre o mesmo tema, mas com conteúdo diferenciado, mostrou-se de grande utilidade. Por isso, a implementação de um site específico sobre a cidade de São Paulo: São Paulo Graffiti. Psyche é de abrangência mais ampla.
A agregação de valor está representada pela disponibilização ontem, 26 de fevereiro de 2016, de dois ebooks de minha autoria no portam da Amazon.com, um em língua portuguesa, O feminino na arte de rua na cidade de São Paulo, e outro em língua inglesa, The woman identity represented by the street art in the city of Sao Paulo, que abordam o imaginário sobre a figura feminina retratado na arte de rua em São Paulo. Em observância às ideias de Yochai, os livros digitais foram planejados e desenvolvidos com auxílio de softwares disponíveis gratuitamente na web (Komposer e Sigil).
Existe um longo caminho a ser percorrido até o completo entendimento das potencialidades econômicas disponibilizadas pela web. Mas uma condição implícita se encontra em The wealth of networks e que se aplica no mundo do trabalho atual: competências como escrita, pensamento estratégico, dedução racional e compreensão do comportamento humano são indispensáveis para uma carreira profissional de sucesso. Entretanto, essas competências isoladas apresentam diminuta utilidade. Elas requerem contextos focados em rumos claros (ou “purpose”, utilizando uma palavra inglesa bastante conhecida no ambiente corporativo) onde possam adquirir vida e complementarem-se. É no interior desses contextos que objetivos são estabelecidos e estratégias construídas. Exemplifico de modo bastante resumido: A escolha do grafite existente em locais públicos e sua adequação como produto (foto) como objeto de trabalho definiu um rumo. Vender fotos de grafites é um objetivo. Ora, a definição da estratégia foi facilitada pela política da Amazon da publicação gratuita por qualquer interessado de ebooks com potencial comercial e com royalties pagos sobre as vendas.
