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Conhecer & Saber

Conhecer & Saber

É comum a afirmação "adquirir conhecimento é uma necessidade" ou então sugestões do tipo "10 maneiras de aquirir mais conhecimentos". Na maioria das afirmações e sugestões, o conhecimento é classificado como algo exterior à pessoa e que pode ser apropriado. Podem até ser verdadeiros tais argumentos pois, como exemplo, o conhecimento está contido tanto em livros quanto em conteúdos na web de fáceis acessos.

Existem pessoas com altíssimo grau de conhecimentos e com o saber em baixíssimo grau. A vida pública no Brasil é um excelente exemplo. Basta abrir qualquer jornal de grande circulação para encontrar-se ampla oferta de concursos públicos, com seus precisos requisitos de conhecimento formal e com destaque para a educação superior. Mas o mesmo jornal, provavelmente, também conterá um amplo leque de narrativas sobre fracassos na condução da coisa pública. Aliás, não há necessidade de procurar-se tais notícias nos jornais: a desaceleração econômica e expressiva deterioração das contas públicas atuais são exemplos acabados de incompetência gerencial e econômica. Entretanto, os ocupantes de cargos públicos são detentores de esmerados títulos de formação acadêmica.

Saber é o desenvolvimento de habilidades para solução de problemas. Tem início na infância, quando a criança percebe que o choro é uma forma eficaz de ter suas necessidades atendidas. Não ocorre com o nascimento, pois o choro nessa fase é instinto e o bebê não se diferencia em relação ao mundo. Mas em torno de um ano de idade, quando a criança começa a desenvolver a percepção espacial e as noções de objetos presentes e ausentes. É então que o choro se conforma como o recurso para indicação de que algo ausente deve tornar-se presente; os pais percebem a necessidade e logo a satisfazem. A primeira elaboração eficaz para solução de um problema ocorreu e somente será reelaborada mais tarde na vida da criança, quando tornar-se ineficiente!

O desenvolvimento de habilidades marca o desenvolvimento e as transformações da criança, que podem ser concebidas como maneiras de solução de problemas. O ingresso na escola, a necessidade de observação de regras de sociabilidade e a aquisição de um certo grau de autonomia não são processos "naturais", mas imposições vinculantes da ordem social contra a barbárie e o caos. São soluções testadas e aprovadas ao longo da história ocidental contra a dominação do mais fraco pelo mais forte. De modo bastante singelo, são projetos "seculares" e "naturalizados" voltados para o convívio social harmonioso e pacífico. O problema: evitar a guerra e a violência; a solução: moldar o comportamento do sujeito.

O desenvolvimento de habilidades para a solução de problemas é condicionado pelo tipo e natureza do problema a ser enfrentado e resolvido. A psicologia comportamental, ou behaviorismo, entende esse fenômeno de forma profunda e denomina estimulação a proposição de problemas artificialmente criados para que soluções diversas sejam elaboradas e implementadas. Essa é uma forma adequada para que as pessoas desenvolvam de modo relativamente homogêneo suas habilidades pessoais, evitando que tais desenvolvimentos fiquem restritos aos desafios apresentados pelo ambiente em que estão inseridas. O ambiente educacional é o meio por excelência apto a elaborar e aplicar tal estimulação.

Algo pouco percebido é que, na razão em que desenvolve novas habilidades, a pessoa se transforma intelectualmente em termos de hábitos e ações. Uma criança que saiba identificar os diferentes tons de uma dada cor dificilmente cometerá equívocos quando abordá-los e combiná-los para atingir um efeito específico. Tal situação é diferente da de outra criança que apenas conhece que as cores podem apresentar diversos tons, mas não sabe utilizá-los para objetivos definidos.

Tal fenômeno coloca em foco um outro ângulo da diferença entre conhecer e saber. Saber necessariamente implica uma prática, uma experiência. E essa experiência é de extrema importância para as possibilidades de sucesso no mercado profissional, um contexto competitivo que disponibiliza escolhas e recursos em maior abundância aos intelectualmente mais aptos.

Por volta dos 13 ou 14 anos, o desenvolvimento da habilidade de resolver problemas muda de natureza, passando de concreta para abstrata. Na fase concreta, os elementos da experiência devem estar fisicamente presentes. Na fase abstrata, os elementos da experiência são imaginados, apenas intelectualmente presentes. Passam a caracterizar-se, também, pela autorreflexão, qual seja a capacidade do pensamento voltar-se para si mesmo (pensar o pensado). Imagine, por exemplo, a construção de uma casa. Antes mesmo de desenhá-la, você visualiza mentalmente os cômodos, suas dimensões, disposições e áreas. Você tem uma noção bastante clara de seu pensamento, o identifica enquanto tal e sabe que pode livremente realizar novas operações ou revertê-las a um estado anterior, desde que certas limitações, como as dimensões físicas do terreno, sejam respeitadas.

Pois bem, essa habilidade para visualização está associado ao desenvolvimento neurológico e deve ser submetida à estimulação para atingir pleno desenvolvimento. Na escola tradicional, nessa faixa etária os adolescentes são submetidos à estimulação pelo pensamento matemático presente na geometria. A geometria, ou estudo das formas, é uma atividade essencialmente abstrata. Um ponto, por exemplo, não existe concretamente, apenas enquanto conceito.

O domínio de conceitos abstratos é de fundamental importância na elaboração, planejamento e previsibilidade dos resultados contidos nas soluções de problemas. Pela abordagem teórica e abstrata cenários possíveis podem ser, com elevado grau de precisão, elaborados, testados e verificados quanto aos seus resultados e adequações aos problemas que se propõem a resolver. Em um país economicamente carente e em busca incessante por desenvolvimento para superação da pobreza, oportunidades podem ser disponibilizadas e atender às necessidades da população.

Ocorre, entretanto, que a qualidade geral da educação formal no Brasil falha ao apresentar estimulação ao desenvolvimento do pensamento abstrato e parte significativa dos educadores parece desconhecer a diferenciação entre conhecer e saber. Parece inexistir a compreensão das fases do desenvolvimento da capacidade intelectual. Ora, se o educador não sabe e falha, o nível da educação não poderia ser diferente: aproximadamente três em quatro brasileiros são analfabetos funcionais (conhecem mas não sabem), de acordo com o Índice de Alfabetismo Funcional do Instituto Paulo Montenegro. O resultado está escancarado na vida cotidiana: um país com enorme disponibilidade de recursos naturais e enorme mediocridade na implementação de uma qualidade de vida em concordância com os padrões das nações desenvolvidas.

Nesse contexto, a educação corporativa, focada na participação e intercâmbio de experiências responsáveis de todos, parece a solução mais rápida. Esse é o nosso projeto atual em Metodologia - Business Intelligence through Cognitive Growth.